impaciente e nervosa,
acha noite tormentosa
este século presente.
Um futuro mais ridente,
uma vida mais formosa,
mais cómoda e luxuosa,
mais barata e bonançosa
- eis a visão cor de rosa
da Humanidade ansiosa.
Nessa ambição de progresso
(minha túnica de Nesso)
também eu não arrefeço.
Ao ideal me arremesso;
à Ciência tudo peço;
não sei andar ao avesso;
dos que param me despeço.
Amo a cidade brilhante,
o movimento constante,
ordenado e perturbante
da multidão ofegante.
Adoro a vida frenética,
a onde a corrente eléctrica
invisível e possante
arrasta o carro gigante
e pela noite horrorosa
espalha luz copiosa.
Desejo a velocidade
e tenho ânsias de altura
a serra orgulhosa e dura
e à fulgante claridade
que afugenta a noite escura
e policia a cidade.
Bendigo a locomotiva,
que marcha veloz a activa,
numa avançada festiva,
sobre a milha humilde e esquiva,
que nuns segundos cativa,
esmagando-a imperativa,
e logo acha despreziva,
deixando-a, a trás, fugitiva.
Exalto o braço colosso
do poderoso motor
no seu contínuo vigor
e inalterável esforço.
Exalto o braço colosso
do poderoso motor,
concepção de homens astutos,
de engenhos extraordinários,
que supre mil operários
e embaratece os produtos.
Deslumbra-se o avião,
elevando-se do chão;
com ele meus olhos vão
e também meu coração
a pairar na Imensidão.
Sobe mais minha razão,
meus sonhos mais subirão,
sobe mais minha ilusão.
Gente moça e aguerrida,
fresca e alegre Mocidade,
tem mil segredos a Vida,
porém não cesses na lida,
não quedes desiludida
de achar um dia a Verdade.
Não pares nem um bocado:
é pequena a Humanidade
e o Progresso ilimitado!
Nesta marcha de ansiedade,
estou sempre no meu peito
a febre de novidade
o sonho do mais perfeito.
Não pares nem um instante.
Marchemos! Avante! Avante!
Sátão, 1919