[Obra de Teresa Lobo da Costa Macedo]
Ao penetrar na jaula a bela domadora,
Sacude-se o chicote, em suas mãos, nervoso.
E a fera (leão altivo) humilde e sofredora
Até ao chão abate o corpo musculoso,
Ao penetrar na jaula a bela domadora!
Ao ver junto a seus pés o leão triste e humilhado,
Retesa altivamente o corpo fino e belo,
E ergue a cabeça loira olhando-o a ele de lado...
E toda a gente adora essa estátua de gelo,
Ao ver junto a seus pés o leão triste e humilhado!
Aquela deusa linda e vaporosa e fria
De novo ergue o chicote e, castigando a fera,
Contempla-a com prazer e um ar de fidalguia,
Enquanto o leão parece olhar com dor sincera
Aquela deusa linda e vaporosa e fria.
O leão, o rei do bosque, o amante heróico e bravo,
Aquele que matava e trucidava dantes,
Agora está mudado, é simplesmente escravo!
Tem um feroz senhor nuns olhos faiscantes
O leão, o rei do bosque, o amante heróico e bravo.
Sentiu, porem, um dia, a humilhação mordê-lo;
Nas garras a tomou irado e vingativo
E os dentes lhe cravou no peito tenro e belo,
O amante mais devoto, o humilhado cativo!...
Sentiu, porém, um dia, a humilhação mordê-lo.
Correu pela assistência um frémito de dor,
ao ver o leão lançar-se à linda rapariga,
Cravando-lhe no peito os dentes com furor.
Sentindo o leão voltar à sua fúria antiga,
Correu pela assistência um frémito de dor.
O frio coração da bela domadora
calcou sempre no herói as suas ânsias lidas,
Porém na arena jaz ela vencida agora.
Golfando sangue, lembra um fogo em labaredas
O frio coração da bela domadora!
Coimbra, março de 1910