[Obra de Teresa Lobo da Costa Macedo]
Duas meninas de outras eras,
que outrora foram primaveras,
passam por mim garridamente,
rindo e pensando, certamente,
que este rapaz do tempo delas,
freme de amor ainda ao vê-las!
Todas janotas e pintadas,
são juventudes simuladas.
[Obra de Teresa Lobo da Costa Macedo]
Mas eu, que as tinha já na cova,
estou a olhar para uma nova,
fresca e formosa rapariga,
que vai passando e não me liga.
Canta cá dentro a voz do poeta,
meus olhos têm senso de esteta,
oiço trinar o rouxinol,
me acaricia a luz do Sol,
nada me doí, ando ligeiro,
tenho no bolso algum dinheiro.
[Obra de Teresa Lobo da Costa Macedo]
Como ainda fremo! E a ilusão
acelerou meu coração!
Eis chego a casa e olho o espelho:
Meu Deus! Meu Deus, como estou velho!
Diz-me uma voz consoladora:
- «NOVO POR DENTRO, VELHO POR FORA».
Porto, 19 de Setembro 1950