Traçando as feições do Lente,
e aluno compõe binómio
dos termos santo e serpente
ou divindade ou demónio.
Do
urso ao cábula varia
do binómio o resultado:
o elogio, a simpatia
ou o rancor declarado.
Mas este, sem divergência,
no revela, à saciedade,
o saber e inteligência
enlaçados na bondade;
Face de linhas corretas
e de sorriso aliciante
é como espelho do esteta,
do prosador elegante.
Vinci falava certeiro,
expondo a alma construtora
a modelar, como o oleiro,
do interior e para fora.
Nunca foi o Padre Eterno
do Olimpo professoral,
foi o Professor moderno
sem prosápia de Imortal;
Nunca usou de estilo enfático
de enfatuada realeza,
pôs no ensino senso prático,
uma expressão de clareza;
Era tanta essa clareza,
que até o menos astuto
se acercava de certeza,
se convencia de arguto;
Calmamente, sem ferir,
sem rispidez ou violência,
possuía o condão de abrir
as portas da inteligência;
Neste límpido sentido
se achava o melhor provento,
o aluno mais distraído,
sem querer estava atento.
Guia sábio e desvelado
ele foi o bom pastor,
que, em vez de usar o cajado,
se fez seguir por amor;
Em vez da fúria dos
hunos
de humilhações e desrespeito,
despertava nos alunos,
admiração e respeito.
Não deu a mão à sebenta,
pois em livros escreveu
sua ciência suculenta,
quanto destes consta é seu.
E, nas aulas, essa ciência
ministrou diretamente
com equilíbrio e paciência
sem carater de assistente.
São ensinamentos tais
de sólidas, fundas raízes,
que sobem aos Tribunais
e fornecem luz aos Juízes.
Com estas sábias lições
o resultado está feito:
mínimo-reprovações;
quanto ao máximo-o proveito.
E reciproca amizade,
nesta esfera acolhedora,
nasce na Universidade
e perdura a vida toda.
Todo se deu ao ensino
de alma, vida e coração
com a exaltação de um hino,
a crença de uma oração;
Sempre firme, sempre atento,
nunca abandonou a liça,
no sublime pensamento
de abrir caminho à Justiça.
Sem nunca ter sido fera,
para os homens de amanhã,
como Professor impera
na Cátedra Coimbrã.
Ao juvenil Professor
vaidoso, duro e silvestre,
de chicote, à domador,
aponto o exemplo do Mestre.
A todo o cultor de leis
merece o mais alto preito
José Alberto dos Reis;
Mestre e Doutor de Direito,
ao perfazer os oitenta,
se revela tão afoito,
tal brilho mental ostenta,
que parece ter vinte oito.
Com toda a sinceridade,
quisera esculpir melhor,
com brilho de mocidade,
vivacidade e calor.
Mas desculpe-se a pobreza
do cinzel do estatuário;
Por certo a idade lhe pesa,
é quase septuagenário
Porto, 1955